segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Médica na Alemanha corre para levar medula para menino no Brasil


O menino Guilherme terá que passar por um transplante de medula para se livrar de uma doença do sangue que o deixa desprotegido contra infecções.


A fila de transplante é muito mais que uma fila. Quem espera, tem rosto, nome e, sobretudo, história. São histórias que dão outra dimensão à palavra vida.
O geólogo Luis Claudio Anisio tirou licença do emprego. Acaba de se mudar para São Paulo. Foi na frente e agora espera pelo renascimento do filho. “A gente está considerando que agora vai ser a última grande internação dele para a cura”, torce.
Nos braços da mãe, chega Guilherme. Ele precisa de antibióticos fortíssimos para enfrentar ambientes como o do aeroporto. Gui vai ter que passar por um transplante de medula para se livrar de uma doença do sangue que o deixa totalmente desprotegido contra infecções por fungos e bactérias.
”Agora a gente vai direto para o hospital. Vai implantar um catéter nele para começar a quimioterapia para, depois, receber pelo mesmo catéter a medula”, explica a mãe, a economista Adriana Mezabarba.
Em um ano de vida, Guilherme passou meses internado com graves infecções. Aprendeu a brincar com os equipamentos do hospital. “Ele vai colocar amanhã o cateter. Aí começa a quimioterapia. Na semana que vem é o nosso grande dia”, conta a mãe.
Mas antes a luta será contra o relógio. O maior desafio de quem precisa de uma medula é achar um doador compatível. Guilherme encontrou o seu na Alemanha. É para lá que, quatro dias antes do transplante, a hematologista Andrea Tiemi Kondo, do Hospital A.E./SP, segue levando uma câmera do Globo Repórter. Já no aeroporto, a corrente de solidariedade para ajudar Gui ganha novos elos.
Andrea grava seus passos. Ela faz o check-in. “Nesse momento estou em uma briga para levar na mão as minhas duas malas, minha pequena mochila e a malinha para eu carregar a medula.”
Ela relata ainda que teve a sorte de encontrar o atendente do aeroporto Leonardo, que foi doador de medula para o irmão. “Ele acha que vai se emocionar. Então não quer contar muito. Mas eu tenho certeza que foi por causa disso que ele se empenhou tanto”, reflete a médica.
Enquanto isso, Guilherme vive uma contagem regressiva: sete dias de quimioterapia totalmente isolado no quarto do hospital. “Está tudo na agenda, tudo no calendário”, avisa a mãe.
“Nos primeiros dois dias de quimioterapia, ele teve uma reação ao medicamento que não estava muito previsto. O quarto é até grande, mas, para uma criança, nada é suficiente. Aí o cabelinho dele começou a cair. Da porta do quarto do hospital para dentro é só sorriso, só alegria, só brincadeira. Da porta para fora, aí são outros quinhentos”, relata.
Na Alemanha, Andrea também não para. Ela vai registrando momentos da viagem. Chega a Stuttgart. “Agora, vou pegar o ônibus para chegar ao destino do nosso doador de medula.”
O doador mora em Tübingen. É um jovem de 23 anos que, sem nunca ter visto o pequeno brasileiro, pode salvar a vida dele.
Andrea mostra o hospital que realizou a coleta de medula. “Nós não temos como entrar em contato com o doador. Esse é um sigilo guardado, até em questão de proteção ao doador”, ressalta.
A luta contra o tempo continua. Depois de coletada, a medula tem prazo de 48 horas para chegar até o receptor. A sincronia tem que ser perfeita. A quimioterapia de Guilherme acaba em um dia e, no outro, Andrea desembarca, ainda assustada com o risco que correu.
”Um voo atrasou. Eu quase perdi a conexão. Por eles saberem mesmo da importância disso, o voo ficou aguardando a gente chegar com a medula para que não atrasasse nada no nosso transplante”, relata.
De volta ao Brasil, praticamente sem dormir, Andrea vai direto para o laboratório do hospital. O doador tem tipo sanguíneo diferente do de Guilherme, e é preciso tirar essas células estranhas e preparar a medula.
Depois de 35 horas da retirada da medula na Alemanha, Andrea chega ao hospital com a bolsinha com as células. Uma bolsinha cheia de esperança que será transplantada para o corpinho de Guilherme. Agora, é se preparar para o momento e torcer muito.
Andrea revela que está nervosa. “A gente já faz isso há um tempo, mas é sempre uma grande expectativa. É um momento de muita alegria. A gente sempre fica um pouco ansiosa”, diz.
A família de Guilherme acena para a médica e vibra com a chegada da caixinha.
No quarto do hospital, cada gesto expressa uma emoção. Há alívio, medo e alegria – tudo ao mesmo tempo. Andrea sorri com seu tesouro nas mãos. O transplante será como uma transfusão de sangue. Gui exibe sua encantadora inocência.
Depois de meia hora, quase no final do transplante, Guilherme dorme - e o pai desaba, chorando.
Andrea sai do quarto e conta que, lá dentro, foi uma choradeira. “A gente vai fazendo exames diários e vamos avaliar quando começar a subir os leucócitos, que são as células de defesa. Essa vai ser a forma que a gente vai identificar que a medula pegou.”
”É incrível. Uma pessoa do outro lado do mundo, sem ele saber a quem, um ato de amor dele proporcionou toda essa felicidade para a gente”, comemora a mãe.
Tão longe e tão perto.


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