terça-feira, 22 de novembro de 2011

Hospital treina médicos a darem o diagnóstico de morte encefálica


Não é nada fácil a tarefa de mostrar que quando uma vida termina, muitas outras podem recomeçar.

 

A notícia da morte de um filho, uma mãe, um irmão traz a imensa dor da perda. A família sente o vazio, a falta, e é nessa hora que profissionais de saúde precisam falar em doação. Não é nada fácil a tarefa de mostrar que quando uma vida termina, muitas outras podem recomeçar.
A mãe que chora a perda de um filho e o robô que se comporta como paciente: em parceria com o Ministério da Saúde, o hospital Albert Einstein treina em São Paulo coordenadores de transplantes de várias partes do Brasil. O processo começa com o que toda família que perde alguém precisa saber: como deve ser feito o diagnóstico da morte encefálica.
“A família vai encontrar uma pessoa respirando através de aparelhos, com o coração batendo, obviamente mantido através de medicações, e com alguns movimentos”, explica o cirurgião Renato Hidalgo, mostrando o robô que simula o paciente. ”Testamos não só a dor nos membros e nos troncos, mas também na face.”
“Ele não tem qualquer reflexo, então se eu abrir a pálpebra desse paciente, eu consigo encostar uma gaze, ou mesmo o dedo. Ele não tem resposta alguma. Isso mostra para nós também que o cérebro parou de funcionar”, acrescenta.
“O Brasil é um país que tem a lei mais rigorosa para o diagnóstico de morte encefálica. A gente precisa de dois médicos que deem o diagnóstico em momentos diferentes, com horas de diferença. Depois disso, é a necessidade de um exame de imagem que comprove que não existe nenhum fluxo sanguíneo no encéfalo”, diz o chefe do Programa de Transplante de Fígado do Hospital A.E./SP, Ben-Hur Ferraz Neto.
Os profissionais que conversam com as famílias nessa hora tão difícil não podem ter nenhuma ligação com equipes que fazem transplantes. A tarefa é garantir que o diagnóstico de morte encefálica seja feito, ter certeza de que os órgãos serão preservados e colocar a possibilidade de doação.
”Um profissional bem capacitado para realizar a entrevista familiar repercute em um resultado muito melhor”, garante o coordenador de transplantes João Luís Erbs.
Existe algo que pode ajudar muito profissionais como João: as conversas em família. O Brasil é grande e tem um povo generoso. Se cada um deixar claro sua vontade de ser um doador, a fila do transplante, a fila da vida pode andar muito mais rapidamente.
João não conhece os que esperam, mas pensa neles todos os dias. ”Quando eu vou dormir eu penso nisso, que o meu trabalho ajuda essas pessoas para que elas possam passar muitos outros natais, anos novos, ver os filhos crescerem junto da sua família. Isso é extremamente gratificante.”
Recomeçar é um direito que todos os brasileiros têm. Mais de 90% dos transplantes feitos no país são pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Pobres e ricos esperam na mesma fila.
O que médicos e pacientes precisam é da solidariedade dos brasileiros, que pode começar com uma picadinha na hora da doação de sangue. Um gesto simples que salva.
Inscrever-se no cadastro de doadores de medula também é fácil. Basta um exame de sangue. A retirada da medula pode ser feita com uma punção no osso da bacia ou com uma máquina que filtra o sangue em uma espécie de hemodiálise.
Sofia, de apenas 17 anos, está doando a medula para a irmã que tem leucemia. “Me sinto feliz em poder salvar a vida dela.”
Quem recebe, ganha vida. É o melhor motivo de todos para comemorar. É com bolo que os profissionais do transplante costumam marcar a data em que uma nova medula começa a funcionar. Quando as células de defesa se multiplicam. A festa dessa vez foi para o Guilherme. “Um alívio indescritível”, comemora a mãe do menino.

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