segunda-feira, 12 de março de 2012

Esperança



Brasileiro recebe pulmão com nova técnica de transplante


Uma nova técnica pode aumentar a taxa de aproveitamento desses órgãos. E ela acaba de ser usada-pela primeira vez - aqui no Brasil.

Dos pulmões doados para transplante no Brasil, 95% acabam descartados, porque geralmente estão muito danificados. Agora, quer uma boa notícia? Uma nova técnica pode aumentar a taxa de aproveitamento desses órgãos. E ela acaba de ser usada - pela primeira vez - aqui no Brasil. O Fantástico acompanhou esse transplante pioneiro com exclusividade. 

“Vocês já viram o pulmão lá?”, pergunta Mateus. “É bonitinho?”, questiona Priscilla, mulher de Mateus. Foram dois anos de espera para Mateus, de 31 anos, até que o momento, enfim, chegou no dia 2 de março. 

“Nós fizemos todos os testes. Todos os testes foram bem. Então, nós vamos tocar em frente. Boa sorte para nós”, afirmou o médico Paulo Pêgo. 

Mateus estava a caminho do primeiro transplante feito com uma técnica nova e inédita no Brasil, já usada em países como Suécia e Canadá. Os pulmões que ele recebeu estavam cheios de líquido e seriam descartados em um transplante comum. 

“O excesso de liquido faz com que o pulmão oxigene mal e, portanto, ele não serviria para um paciente receber”, explica. 

Isso acontece se o doador recebeu muito soro no hospital, por exemplo. É em um caso como esse que a nova técnica pode ajudar. O segredo é simples: os médicos injetam nos pulmões uma solução que absorve o líquido em excesso. Algo como enxugar as áreas em que o líquido é prejudicial. 

Os médicos aplicaram a técnica nos novos pulmões de Mateus, que vieram de um doador de São Bernardo, na Grande São Paulo. Um homem de 39 anos. “O pulmão é o nosso paciente agora”, diz. 

Começou, então, uma bateria de testes. Primeiro simularam o funcionamento dos pulmões, que inflaram e desinflaram, como se já estivessem dentro do corpo de Mateus. Analisaram tudo por fora e por dentro. “É um aparelho que vê lá dentro, dentro do brônquio e da traqueia”, aponta o médico Paulo Pêgo. 

Os médicos apalparam muito até a conclusão final. Era o fim da agonia de Mateus. Em 2008, ele começou a ter tosse e falta de ar, os primeiros sintomas de uma doença rara, chamada fibrose pulmonar. A doença enrijeceu o tecido dos pulmões. Eles perderam parte da capacidade de inflar e desinflar durante a respiração e encolheram: ficaram do tamanho dos pulmões de um adolescente. 

A família de Mateus, que morava em Minas Gerais, precisou se mudar para uma cidade mais próxima de especialistas. Escolheram Taubaté, a 130 quilômetros de São Paulo. 

Todas as tarefas, as atividades do dia a dia eram feitas com muita, mas muita dificuldade. Sair do sofá, por exemplo, ou dar dois passinhos até a mesa já era um sacrifício para o Mateus. 

“Já era muito cansativo para ele. A cada movimento que ele fazia, esse cansaço todo exigia do organismo dele três minutos de descanso para que pudesse voltar toda a oxigenação para o organismo dele estar se recompondo para ele fazer outra determinada atividade”, contou Priscilla, mulher de Mateus. 


Ele dependia de cilindros de oxigênio. “Ainda temos os aparelhos de oxigênio que ele usava. Um deles era portátil. Ele só saia de casa com esse aparelho. Outro ele usava 24 horas”, conta Priscilla. 

Pouco antes da operação, Mateus contou do que mais sentia falta. “Jogar futebol. Toda semana eu jogava. Isso também é um desejo grande”, comenta Mateus. 

A cirurgia durou quase dez horas. “Pulmão grande. Será que ele cabe?”, questiona o médico. 

Coube, sim. Mateus já consegue respirar de novo. Uma vitória também para os médicos, que testaram a técnica 30 vezes antes deste transplante. “A sensação é muito boa. Nós trabalhamos, é uma equipe inteira trabalhando durante três anos para chegar aonde nós chegamos”, comemora o médico Paulo Pêgo. 

Mateus se recupera na UTI com o apoio de parentes, mas ainda sem data para deixar o hospital. “Está todo mundo rezando por você, torcendo”, disse uma tia de Mateus. 

De acordo com os médicos, Mateus deve ter uma vida normal em até seis meses. Vai poder até carregar a mulher no colo, como fazia. A filha Ágata, de 13 anos, só quer curtir um dia com o pai. “Passear, tomar sorvete, essas coisas. Tudo isso eu não posso fazer agora com ele”, diz a menina. 

O Ministério da Saúde está acompanhando os resultados desse procedimento inédito para decidir depois se vai levar essa nova técnica para outros estados. Em São Paulo, os médicos acreditam que vai ser possível reduzir o tempo de espera na fila por causa da novidade. 

Hoje, esse prazo é de cerca de dois anos. “Talvez reduzir essa fila de espera para um período de um ano”, calcula Fábio Jatene, diretor do programa pulmonar do Incor. 

Um ano – é exatamente o tempo que Luana está na fila. Ela era criança quando foi diagnosticada com uma doença que vai diminuindo os pulmões. Hoje, aos 20 anos, está cada vez mais difícil respirar. Por isso, comemorou quando soube que teria uma nova chance. “Espero agora uma nova vida”, disse.






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