O
menino Guilherme terá que passar por um transplante de medula para se livrar de
uma doença do sangue que o deixa desprotegido contra infecções.
A fila de transplante é muito mais que
uma fila. Quem espera, tem rosto, nome e, sobretudo, história. São histórias
que dão outra dimensão à palavra vida.
O geólogo Luis
Claudio Anisio tirou licença do emprego. Acaba de se mudar para São Paulo. Foi
na frente e agora espera pelo renascimento do filho. “A gente está considerando
que agora vai ser a última grande internação dele para a cura”, torce.
Nos braços da
mãe, chega Guilherme. Ele precisa de antibióticos fortíssimos para enfrentar
ambientes como o do aeroporto. Gui vai ter que passar por um transplante de
medula para se livrar de uma doença do sangue que o deixa totalmente
desprotegido contra infecções por fungos e bactérias.
”Agora a gente
vai direto para o hospital. Vai implantar um catéter nele para começar a
quimioterapia para, depois, receber pelo mesmo catéter a medula”, explica a
mãe, a economista Adriana Mezabarba.
Em um ano de vida, Guilherme passou
meses internado com graves infecções. Aprendeu a brincar com os equipamentos do
hospital. “Ele vai colocar amanhã o cateter. Aí começa a quimioterapia. Na
semana que vem é o nosso grande dia”, conta a mãe.
Mas antes a luta
será contra o relógio. O maior desafio de quem precisa de uma medula é achar um
doador compatível. Guilherme encontrou o seu na Alemanha. É para lá que, quatro
dias antes do transplante, a hematologista Andrea Tiemi Kondo, do Hospital
A.E./SP, segue levando uma câmera do Globo Repórter. Já no aeroporto, a
corrente de solidariedade para ajudar Gui ganha novos elos.
Andrea grava
seus passos. Ela faz o check-in. “Nesse momento estou em uma briga para levar
na mão as minhas duas malas, minha pequena mochila e a malinha para eu carregar
a medula.”
Ela relata
ainda que teve a sorte de encontrar o atendente do aeroporto Leonardo, que foi
doador de medula para o irmão. “Ele acha que vai se emocionar. Então não quer
contar muito. Mas eu tenho certeza que foi por causa disso que ele se empenhou
tanto”, reflete a médica.
Enquanto isso,
Guilherme vive uma contagem regressiva: sete dias de quimioterapia totalmente
isolado no quarto do hospital. “Está tudo na agenda, tudo no calendário”, avisa
a mãe.
“Nos primeiros
dois dias de quimioterapia, ele teve uma reação ao medicamento que não estava
muito previsto. O quarto é até grande, mas, para uma criança, nada é
suficiente. Aí o cabelinho dele começou a cair. Da porta do quarto do hospital
para dentro é só sorriso, só alegria, só brincadeira. Da porta para fora, aí
são outros quinhentos”, relata.
Na Alemanha,
Andrea também não para. Ela vai registrando momentos da viagem. Chega a
Stuttgart. “Agora, vou pegar o ônibus para chegar ao destino do nosso doador de
medula.”
O doador mora
em Tübingen. É um jovem de 23 anos que, sem nunca ter visto o pequeno
brasileiro, pode salvar a vida dele.
Andrea mostra o
hospital que realizou a coleta de medula. “Nós não temos como entrar em contato
com o doador. Esse é um sigilo guardado, até em questão de proteção ao doador”,
ressalta.
A luta contra o
tempo continua. Depois de coletada, a medula tem prazo de 48 horas para chegar
até o receptor. A sincronia tem que ser perfeita. A quimioterapia de Guilherme
acaba em um dia e, no outro, Andrea desembarca, ainda assustada com o risco que
correu.
”Um voo
atrasou. Eu quase perdi a conexão. Por eles saberem mesmo da importância disso,
o voo ficou aguardando a gente chegar com a medula para que não atrasasse nada
no nosso transplante”, relata.
De volta ao
Brasil, praticamente sem dormir, Andrea vai direto para o laboratório do
hospital. O doador tem tipo sanguíneo diferente do de Guilherme, e é preciso
tirar essas células estranhas e preparar a medula.
Depois de 35
horas da retirada da medula na Alemanha, Andrea chega ao hospital com a
bolsinha com as células. Uma bolsinha cheia de esperança que será transplantada
para o corpinho de Guilherme. Agora, é se preparar para o momento e torcer
muito.
Andrea revela
que está nervosa. “A gente já faz isso há um tempo, mas é sempre uma grande
expectativa. É um momento de muita alegria. A gente sempre fica um pouco
ansiosa”, diz.
A família de
Guilherme acena para a médica e vibra com a chegada da caixinha.
No quarto do
hospital, cada gesto expressa uma emoção. Há alívio, medo e alegria – tudo ao
mesmo tempo. Andrea sorri com seu tesouro nas mãos. O transplante será como uma
transfusão de sangue. Gui exibe sua encantadora inocência.
Depois de meia
hora, quase no final do transplante, Guilherme dorme - e o pai desaba, chorando.
Andrea sai do
quarto e conta que, lá dentro, foi uma choradeira. “A gente vai fazendo exames
diários e vamos avaliar quando começar a subir os leucócitos, que são as
células de defesa. Essa vai ser a forma que a gente vai identificar que a
medula pegou.”
”É incrível.
Uma pessoa do outro lado do mundo, sem ele saber a quem, um ato de amor dele
proporcionou toda essa felicidade para a gente”, comemora a mãe.
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