Não é nada fácil a tarefa de mostrar
que quando uma vida termina, muitas outras podem recomeçar.
A notícia da morte de um filho, uma
mãe, um irmão traz a imensa dor da perda. A família sente o vazio, a falta, e é
nessa hora que profissionais de saúde precisam falar em doação. Não é nada
fácil a tarefa de mostrar que quando uma vida termina, muitas outras podem
recomeçar.
A mãe que chora a perda de um filho e o
robô que se comporta como paciente: em parceria com o Ministério da Saúde, o
hospital Albert Einstein treina em
São Paulo coordenadores de transplantes de várias partes do
Brasil. O processo começa com o que toda família que perde alguém precisa
saber: como deve ser feito o diagnóstico da morte encefálica.
“A família vai encontrar uma pessoa
respirando através de aparelhos, com o coração batendo, obviamente mantido
através de medicações, e com alguns movimentos”, explica o cirurgião Renato
Hidalgo, mostrando o robô que simula o paciente. ”Testamos não só a dor nos
membros e nos troncos, mas também na face.”
“Ele não tem qualquer reflexo, então se
eu abrir a pálpebra desse paciente, eu consigo encostar uma gaze, ou mesmo o
dedo. Ele não tem resposta alguma. Isso mostra para nós também que o cérebro
parou de funcionar”, acrescenta.
“O Brasil é um país que tem a lei mais
rigorosa para o diagnóstico de morte encefálica. A gente precisa de dois
médicos que deem o diagnóstico em momentos diferentes, com horas de diferença.
Depois disso, é a necessidade de um exame de imagem que comprove que não existe
nenhum fluxo sanguíneo no encéfalo”, diz o chefe do Programa de Transplante de
Fígado do Hospital A.E./SP, Ben-Hur Ferraz Neto.
Os profissionais que conversam com as
famílias nessa hora tão difícil não podem ter nenhuma ligação com equipes que
fazem transplantes. A tarefa é garantir que o diagnóstico de morte encefálica
seja feito, ter certeza de que os órgãos serão preservados e colocar a
possibilidade de doação.
”Um profissional bem capacitado para
realizar a entrevista familiar repercute em um resultado muito melhor”, garante
o coordenador de transplantes João Luís Erbs.
Existe algo que pode ajudar muito
profissionais como João: as conversas em família. O Brasil
é grande e tem um povo generoso. Se cada um deixar claro sua vontade de ser um
doador, a fila do transplante, a fila da vida pode andar muito mais
rapidamente.
João não conhece os que esperam, mas
pensa neles todos os dias. ”Quando eu vou dormir eu penso nisso, que o meu
trabalho ajuda essas pessoas para que elas possam passar muitos outros natais,
anos novos, ver os filhos crescerem junto da sua família. Isso é extremamente
gratificante.”
Recomeçar é um direito que todos os
brasileiros têm. Mais de 90% dos transplantes feitos no país são pagos pelo
Sistema Único de Saúde (SUS). Pobres e ricos esperam na mesma fila.
O que médicos e pacientes precisam é da
solidariedade dos brasileiros, que pode começar com uma picadinha na hora da
doação de sangue. Um gesto simples que salva.
Inscrever-se no cadastro de doadores de
medula também é fácil. Basta um exame de sangue. A retirada da medula pode ser
feita com uma punção no osso da bacia ou com uma máquina que filtra o sangue em
uma espécie de hemodiálise.
Sofia, de apenas 17 anos, está doando a
medula para a irmã que tem leucemia. “Me sinto feliz em poder salvar a vida
dela.”
Quem recebe, ganha vida. É o melhor
motivo de todos para comemorar. É com bolo que os profissionais do transplante
costumam marcar a data em que uma nova medula começa a funcionar. Quando as
células de defesa se multiplicam. A festa dessa vez foi para o Guilherme. “Um
alívio indescritível”, comemora a mãe do menino.
Fonte: http://g1.globo.com
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